Especial
10/11/2020
Por Silvia Sousa
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2012 e 2017 o número de idosos deu um salto no país, passando de 25,4 milhões para mais de 30 milhões, um aumento de 19,5%. Nesse mesmo período, cresceu também o número de pessoas com mais de 60 anos alojadas em albergues públicos. Se em 2012 eles eram 45,6 mil, em 2017 chegaram a 60 mil. Mas, se somarmos a eles aqueles que vivem em instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) privadas, o número deve chegar a 300 mil idosos. O cálculo é estimado, pois esse setor ainda é pouco organizado, o que faz com que haja muito desencontro de informações em relação à gestão e ao manejo com os idosos. Foi olhando para essa situação que a Frente Nacional de Fortalecimento às Instituições de Longa Permanência para Idosos (FN-ILPI) nasceu.
Para entender essa história é preciso voltar um pouco no tempo. Em março deste ano, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a Covid-19 uma pandemia, o Brasil ainda via sua curva de número de casos começar a subir, mas na Europa a situação já era bem preocupante. As cenas de corpos sendo acumulados em contêineres chocaram o mundo. E a situação era ainda mais preocupante entre os idosos, principalmente aqueles que viviam em ILPIs. A taxa de mortes chegava a 50%, ou seja, de todos os idosos que moravam em uma instituição, metade morria por causa da doença. O diretor-geral assistente da OMS, o italiano Ranieri Guerra, especialista em saúde pública, definiu o cenário como um massacre.
Segundo o Instituto Nacional de Saúde da Itália, os principais desafios na gestão da Covid-19 dentro das ILPIs eram a falta de informação sobre como proceder para conter a infecção, a falta de dispositivos de proteção pessoal e as dificuldades para isolar os casos positivos ou para realizar exames que confirmassem o diagnóstico.
Essa situação acendeu um farol vermelho para o Brasil, mostrando que algo muito grave – e parecido com o que ocorria na Itália e em outros países europeus – poderia acontecer aqui também. Como lá, faltavam informações para que os profissionais que cuidavam de idosos pudessem lidar com o problema. Mas o que fazer? Como fazer? Ninguém sabia, mas algo precisava ser feito. E muito rápido.
Durante uma audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos do Idoso, na Câmara dos Deputados, em Brasília, em 7 de abril veio o alerta: se o Estado brasileiro não fizesse nada, viveríamos uma tragédia tal como a Itália. Na plateia, entre outros representantes da causa do envelhecimento no Brasil, estava a médica geriatra Karla Giacomin, de Belo Horizonte (MG). “Já saímos dali criando um grupo de WhatsApp. Nossa intenção era apoiar a comissão da Câmara para que ela pudesse atuar nesse âmbito da Covid-19”, conta. Mas o grupo foi crescendo e daí nasceu a Frente Nacional de Fortalecimento às Instituições de Longa Permanência para Idosos (FN-ILPI). De acordo com Karla, que se tornou coordenadora da Frente, trata-se de um movimento social composto por voluntários das cinco regiões do país. “É uma reação à falta de respostas durante a pandemia, principalmente entre os idosos”, explica ela.
O grande triunfo da Frente foi expor as fragilidades do setor e se organizar para oferecer informação segura, ainda que de forma genérica, para que as ILPIs pudessem se adaptar e trabalhar de forma correta na pandemia. “Havia a necessidade de um movimento que trouxesse dados, informações e orientações fidedignas, baseadas em dados científicos, e que pudesse unir profissionais e estudiosos de diversas áreas para somar nos cuidados e proteção ao idoso institucionalizado de todo o país”, explica a especialista em inclusão digital Aline Sala Carvalho, coordenadora do grupo de comunicação da Frente. Ela mora na Itália e presenciou de perto todos os problemas que a Covid-19 trouxe para a população idosa daquele país.
A Frente está organizada em oito grupos de trabalho, com mais de 1,2 mil voluntários. “São profissionais de todas as áreas de conhecimento, com competência técnica e embasamento científico, atuantes em setores governamentais e universidades, que contribuem no suporte às ILPIs diante do abismo existente entre as instituições e o Estado”, explica Natalia de Cassia Horta, coordenadora da pós-graduação em gerontologia da PUC-Minas, Na FN-ILPI, ela coordena um grupo de trabalho de elaboração de materiais educativos. Entre os voluntários há médicos geriatras, fisioterapeutas, nutricionistas, enfermeiros, assistentes sociais, advogados, promotores, entre outros especialistas.
Cartilhas, lives e treinamentos
Postado por alinesallacarvalho em 25/ago/2021 - Sem Comentários