Idosos e movimento social em tempos de COVID-19 no Brasil

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Idosos e movimento social em tempos de COVID-19 no Brasil – A Frente Nacional de Fortalecimento das ILPIs

By Fabiana C. Saddi and Peter Lloyd-Sherlock

No combate à COVID-19, distintas mobilizações e movimentos sociais têm sido originados e/ ou fortalecidos em diversas partes do mundo (Pleyers, 2020; Breno & Pleyers, 2020; Krinsky & Caldwell, 2020; Seow et al. 2021; Wan et al., 2020), e em especial no que se refere ao cuidado de grupos mais vulneráveis, como as pessoas idosas (Gallo & Wilber, 2021; Aung et al., 2021, Fernandes et al., 2021; Lim et al., 2020).  No Brasil verificou-se a criação da Frente Nacional de Fortalecimento das Instituições de Longa Permanência (FN) (Frente Nacional – ILPI , 2021), já no início da pandemia no país, em reação aos efeitos devastadores ocasionados pela COVID-19 na Europa, e quando o desempenho da resposta Brasileira a COVID-19 mostrava-se ainda incipiente e incerta, como ainda ocorre de certa forma – tendo em vista a crescente politização da pandemia, dentre outros fatores.

Em abril deste ano a FN completou um ano de existência, comemorado com um webinar nesta Plataforma (Corona Older Global Platform, 2021). O trabalho da FN tem se destacado pela participação de profissionais e lideranças nas cinco regiões do país; como: trabalhadores de linha de frente em ILPIs (administradores e cuidadores), psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, médicos geriatras, e gestores públicos que atuam no cuidado ao idoso. Destaca-se também por suas coproduções com atores destes diversos segmentos, disponibilizando em seu website um amplo leque de ferramentas e documentos, desde guias de cuidados a palestras sobre higienização das mãos e nutrição do idoso, como exemplos (Frente Nacional – ILPI, 2021b & 2021c). Um dos últimos webinars organizado pela FN obteve 3.044 visualizações e 12.202 pessoas alcançadas (até 23 de julho de 2021).

Para entendermos melhor como se deu a criação e desenvolvimento deste movimento social, entrevista-se aqui a Dra. Karla Giacomin, quem esteve à frente da criação da FN, e hoje coordena o trabalho da Frente no Brasil. A doutora Karla Giacomin é médica geriatra, com larga experiência em saúde da pessoa idosa. Ela é referência técnica em Saúde da Pessoa Idosa da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, consultora da Organização Mundial de Saúde para políticas de saúde e envelhecimento, vice-presidente do International Longevity Center – Brasil, e membro pesquisador do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Fiocruz Minas.

Fale um pouco como foi a formação da FN?

Karla Giacomin: A pandemia chegou de uma forma muito abrupta aqui, e as notícias que a gente tinha do que estava acontecendo na Europa eram muito aterrorizantes. Sabendo da realidade das instituições brasileiras, a gente temia que acontecesse aqui o que aconteceu lá. Se a pandemia chegasse aqui com a força que estava na Europa, e encontrasse as instituições no Brasil tão despreparadas – do ponto de vista do cuidado, do espaço físico, dos recursos humanos, dos recursos em geral -, nós imaginávamos que seria uma catástrofe. Foi neste contexto que houve um manifesto chamado “Grito das ILPIs”, feito pelas professoras Yeda Duarte, Marisa Accioly, e Helena Watanabe da Universidade de São Paulo, alertando para isso. A partir desse “grito” houve um convite da Comissão de Defesa dos Direitos do Idoso no Congresso Nacional para uma audiência pública. Naquele dia, em 07 de abril de 2020, estávamos no chat vários ativistas em favor da pessoa idosa, e ali resolvemos fazer um grupo do WhatsApp para conversar sobre isso. Depois falaram: “Karla, você poderia ser a coordenadora desse grupo?”. Aí nós criamos a Frente Nacional de Fortalecimento das ILPIs.

Fale um pouco desta característica de urgência da Frente, bem como da formação das Regionais.

Karla Giacomin: Ela foi criada como frente nacional ILPI urgente, que é o nome que eu dou pro meu WhatsApp. Era urgente porque tinha essa demanda de dar uma resposta rápida. Então a gente foi somando.  O WhatsApp comporta 252 pessoas. Em muito pouco tempo esgotaram as vagas no WhatsApp. Aí nós percebemos que precisávamos fazer grupos regionais. Então os fizemos.  Como a regional Sudeste é muito grande, foi subdividida em Sudeste 1 e Sudeste 2. A gente também foi agregando ativistas de outros movimentos que têm interesse na instituição, como o Ministério Público. Fizemos contato com várias entidades, e a FN foi crescendo. Chegaram gestores, técnicos dos mais variados, enfermeiro, assistente social, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, fonoaudiólogo, dentista, educador físico, todo mundo foi se sentindo incluído. E a gente tinha uma preocupação muito grande de dar resposta, porque a gente via que o governo federal não reconhecia a instituição como um locus de cuidado especial.

Quais eram seus objetivos?

Karla Giacomin: Nosso primeiro objetivo era oferecer informação, porque era a única coisa que a gente podia fazer, que estava ao nosso alcance. Uma das pessoas que estava também nessa live era a Aline Salla, uma profissional de tecnologia e comunicação que mora na Itália, e passava para a gente informações da Itália, que eram as mais terríveis. Isso aumentava ainda mais a nossa responsabilidade de correr contra o tempo. Para você ter ideia, quando a FN foi criada, o Brasil tinha 822 óbitos de COVID, nós estamos falando agora de 536.000 óbitos. A gente tem certeza de que a nossa atuação, de alguma forma, ajudou a interceptar essa catástrofe. Porque a gente fechou algumas questões: que tinha que interromper as visitas, e tinha que orientar as pessoas com relação ao contágio. Aí nós fizemos o primeiro relatório consolidado.

Postado por alinesallacarvalho em 16/set/2021 - Sem Comentários

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