Envelhecendo no Brasil: Somos todos demandantes de cuidados

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Por Revista Aptare
Coluna: FN-ILPI
Autoria do artigo: Dra Karla Giacomin
ano IX • edição 44
mai | jun | jul 2022

(Nota de agradecimento: Estamos muito felizes com o convite da Revista Aptare para termos uma coluna da Frente na revista, para nós é uma grande satisfação essa parceria e confiança. Gratidão Lilian Liang e toda equipe da Aptare em nome de todos nós da Frente-ILPI.)

Apandemia de Covid-19 deixou evidente que o cuidado para com uma pessoa idosa frágil se configura como uma necessidade e um desafio para o qual o Brasil não se preparou1,2. Porém, é importante realçar que essa omissão não se dá por falta de leis: o Brasil dispõe de vários instrumentos legais que definem a população idosa como um segmento prioritário para as políticas sociais.

Desde 2006, a Política Nacional da Pessoa Idosa estabelece como diretrizes de atuação a promoção do envelhecimento
ativo e o enfrentamento das fragilidades – das pessoas, das famílias, do Sistema Único de Saúde para o cuidado. As
duas diretrizes não são excludentes, mas complementares. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou a
Década do Envelhecimento Saudável – 2020-2030 (OMS, 2020).

Para promover o envelhecimento saudável e melhorar a vida das pessoas idosas, de suas famílias e comunidades, serão necessárias mudanças fundamentais nas ações e a forma como pensamos a idade e o envelhecimento. Contudo, essa proposta de envelhecimento saudável não pode servir de instrumento para reforçar ainda mais a desigualdade, já tão profundamente marcada no nosso país. Afinal, a forma como se chega à velhice reflete o acesso ou não a direitos fundamentais, o que de alguma maneira define as oportunidades (in)disponíveis às pessoas ao longo de todo o curso de vida. Por isso mesmo, nascer, crescer, envelhecer são processos estritamente ligados à desigualdade social e econômica, modulados por questões de gênero, cultura e etnia, e, em qualquer ponto do curso da vida, desde antes
de nascer até morrer é necessário cuidado. Este artigo questiona: é justo pensar a velhice em ganhadores – os que envelhecem de modo ativo e saudável – e perdedores – os que envelhecem demandando cuidados?


A nosso ver, não. Essa visão limitada sustenta o que o filósofo Michel Billé e o sociólogo Didier Martz (2018) denominaram a “tirania do envelhecer bem” , isto é, (…) envelhecer sem que os sinais, indícios ou sintomas do envelhecimento se tornem perceptíveis. Envelhecer sem que os atributos da velhice sejam detectáveis em sua aparência ou em seu comportamento. Envelhecer, enfim, sem que a idade avançada perturbe os que o cercam ou custe a ninguém; eis, de certa forma, o desafio que deve ser enfrentado, a liminar tirânica a que se deve concordar em se submeter para não correr o risco de ser estigmatizado, marginalizado ou de tratamento social indesejável, necessariamente muito invejável. (…) a questão é saber, quaisquer que sejam as declarações de intenção, se os velhos são homens como os outros. Para ver como eles são tratados, é permitido fazer a pergunta. Aceita-se implicitamente que, dada a sua idade, não têm as mesmas necessidades, talvez nem mesmo os mesmos direitos que os outros membros da sociedade. (…) Para aliviar a nossa consciência, produzimos, entre todas as que existem na velhice, uma nova doutrina: “Envelhecer bem”. Dá a ilusão de que, finalmente, o velho, ou pelo menos aquele que envelhece, é tratado em pé de igualdade, ou até melhor do que os outros, enquanto na realidade as coisas permanecem como estão ou pioram: o velho é um outro e nós o exilamos.”

Continue lendo o artigo completo na página 25 e as demais materias….

Postado por alinesallacarvalho em 28/jun/2022 - Sem Comentários

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